12 de jul. de 2014

MACIEL COMPLETA 26 ANOS de sua coluna na Tribuna

Às vezes eu pesco um leitor. Outras vezes o leitor me pesca.
Entre uma coisa e outra, as águas vão passando”
Mário Quintana.
Gratidão é a palavra primeira, sentimento maior endereçado a todos os leitores deste espaço, hoje por um motivo especial, esta Coluna completou 26 anos de existência no último dia 10.
Com a frase do grande poeta Mário Quintana a baixo do título enxuto, encerro o tema principal para transcrever a bela lição registrada pelo saudoso Armando Nogueira, jornalista sabedor e autor de ricos textos. Tal conteúdo é um aprendizado, desafio inspirador para que escreve,  usar o menos possível as palavras; ou retirá-las ao máximo possível:  
“Escrever é cortar palavras. Passei alguns anos certo de que o autor dessa preciosa máxima era Carlos Drummond de Andrade. Até que um dia perguntei ao poeta. Ele conhecia, mas negou que fosse dele. Confesso que fiquei desapontado. A sentença tinha a cara do mestre Drummond, cuja prosa é um exemplo de concisão. Otto Lara Resende desconfiava que pudesse ser de um escritor mexicano a ideia da dica preciosa. Eu, por mim, seria capaz de atribuí-la a John Ruskin, notável escritor e crítico inglês do século passado. Se não o disse, com todas as letras, certamente foi Ruskin quem melhor ilustrou o adágio, num conto antológico. É o caso de um feirante de peixes num porto britânico.
O homem chega à feira e lá encontra seu compadre, arrumando os peixes num imenso tabuleiro de madeira. Cumprimentam- se. O feirante está contente com o sucesso do seu modesto comércio. Entrou no negócio há poucos meses e já pôde até comprar um quadro-negro pra badalar seu produto. Atrás do balcão, num quadro-negro, está a mensagem, escrita a giz, em letras caprichadas: HOJE VENDO PEIXE FRESCO. Pergunta, então, ao amigo e compadre:
acrescentaria mais alguma coisa? O compadre releu o anúncio. Discreto, elogiou a caligrafia. Como o outro insistisse, resolveu questionar. Perguntou ao feirante:
- Você já notou que todo o dia é sempre hoje? - E acrescentou: - Acho dispensável. Esta palavra está sobrando... O feirante aceitou a ponderação: apagou o advérbio. O anúncio ficou mais enxuto. VENDO PEIXE FRESCO.
- Se o amigo me permite - tornou o visitante -, gostaria de saber se aqui nessa feira existe alguém dando peixe de graça. Que eu saiba, estamos numa feira. E feira é sinônimo de venda. Acho desnecessário o verbo. Se a banca fosse minha, sinceramente, eu apagaria o verbo.
O anúncio encurtou mais ainda: PEIXE FRESCO.
- Me diga uma coisa: Por que apregoar que o peixe é fresco? O que traz o freguês a uma feira, no cais do porto, é a certeza de que todo peixe, aqui, é fresco. Não há no mundo uma feira livre que venda peixe congelado...
E lá se foi também o adjetivo. Ficou o anúncio, reduzido a uma singela palavra: PEIXE. Mas, por pouco tempo. O compadre pondera que não deixa de ser menosprezo à inteligência da clientela anunciar, em letras garrafais, que o produto aí exposto é peixe. Afinal, está na cara. Até mesmo um cego percebe, pelo cheiro, que o assunto, aqui, é pescado...
O substantivo foi apagado. O anúncio sumiu. O quadro-negro também. O feirante vendeu tudo. Não sobrou nem a sardinha do gato. E ainda aprendeu uma preciosa lição: escrever é cortar palavras”.
Fases de Fazer Frases (I)
Cuidado ao dar explicações, elas poderão não ser devolvidas.  
Frases de Fazer Frases (II)
Se não sou o que deveria ser, sou um ser que deveria não ser.
Frases de Fazer Frases (III)
Não me assoma os números ímpares, uma singularidade que somo aos meus pares.  
Olhos, Vistos do Cotidiano
Ante as certezas sobre o vexame histórico da Seleção brasileira (Alemanha, 7x1), tenho dúvidas quanto a manifestação da torcida brasileira ao gritar “olé” nas vezes que os germânicos tocavam na bola. Protesto irônico? Ou seria o reconhecimento desportivo nobre ao aceitar a derrota e enaltecer a vitória do adversário?  
Reminiscências em Preto e Branco
Nunca serei dono do meu tempo. Quando muito, dono do meu relógio.     
Coluna deste 12 de julho publicada no jornal Tribuna. Maciel, mourãoense, filho de pioneiros, professor, sociólogo, advogado, membro da Academia Mourãoense de Letras e do Centro de Letras do Paraná.

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